O PLETSCH E O PRESTES
Era inicio de uma tarde de sexta na minha Lages. Meado dos
anos 80. Estava no trabalho, toca o telefone, era o companheiro Clausmar
Siegel, dizendo que o Comandante Luiz
Carlos Prestes estaria em Blumenau na FURB, às 19 horas para uma palestra.
Fiquei louco. Pobre e sem grana, disse que daria a resposta em meia hora. O buzão
da Rex ou Reunidas para Blumenau sairia às 15h30min. E “largava o trampo” às 18
horas. Fui até o patrão, implorei pra sair cedo e ainda pedi uma “vale”, 50 paus. Putzzzz era muita grana. Mas queria muito vê-lo.
Chegamos à Furb, lá pelas 18 horas. Deu 19 horas, 19 e trinta,
19 e trinta e um, 20 horas e nada do Comandante chegar. Entrei em desespero.
Não ver o Prestes e ainda ter que pagar o “vale” de 50 paus. Meu desespero foi tão grande, que comecei a
andar pela Furb e ler todos os cartazes e placas. Precisava valer alguma coisa ter
ido a Blumenau.
Derrepente, andando num dos corredores, isso já era 20h30min.
Vejo um grupo de pessoas vindo em minha direção e eu indo em direção a elas.
Quem estava vindo? Ele, o Cavaleiro da Esperança. (Com Maria Ribeiro e não Olga
é claro) Ou seja, o Pletsch ia, e o Prestes vinha. Passa por mim, e cumprimenta-me,
com a cabeça. Fiquei gelado. Não sabia o que fazer. Pensei: Ele está indo para
o anfiteatro e é lá que eu deveria estar. Segui o Prestes... Entramos
juntos(entendam, eu no meio dos aliados e seguranças). Fotos pra todo lado. (Tenho
convicção que um dia vou ver uma foto minha com o Prestes).
Primeira frase dita pelo Prestes na sua palestra: um comunista
nunca se atrasa. Aí justificou o motivo do atraso. Era tal de “falta de teto”
no aeroporto do Rio.
Ouvi a palestra ao lado do companheiro Clausmar Siegel.
Essa história, contei aos meus alunos. A escola é “muito
conceituada” e religiosa. Dei detalhes, tanta era a emoção de contar.
Na semana seguinte, voltei à escola e a vice-diretora –
leiga nos dois sentidos - me chama e pergunta se era verdade o que eu tinha
dito aos alunos “esta estória”. Falei
que sim!
Ela disse-me: Pletsch, como você conheceu Luiz Carlos
Prestes se ele morreu na Segunda Guerra Mundial?
Fiquei triste! Não por ela! Pelos alunos!