segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

domingo, 25 de dezembro de 2011

Hoje é Natal

HOJE É NATAL
Hoje você ligou para seus parentes distantes
Recebeu ligações de pessoas que gostam de você.
Trocou presentes
Preparou aquelas iguarias gostosas para receber a família.
Deu abraços apertados.
Lembrou dos seus que se foram.
Seu coração ficou melhor.
Pena que amanhã tudo acaba.

domingo, 18 de dezembro de 2011

PROVA DA UNESP + GABARITO. CONFIRA

A correção foi feita pelo professores do Colégio Objetivo.

UNESP - SEGUNDA FASE.

CHUCHU

CHUCHU
Eu gosto de fazer compras. Gosto da listinha que preparam para eu levar até o mercado. Mas, aproveito e compro outras coisinhas gostosas. Só não admito um item na lista, o Sechium edule, mais conhecido como Chuchu!
Pra quê comprar chuchu?
A &$%¨$%#@ do chuchu nasce em qualquer lugar. Se você odiar o vizinho nasce chuchu. Se você olhar pra cima, cai chuchu. Se você subir numa cerca tem chuchu. Se você chutar alguma coisa é chuchu. A coisa ta feia na despensa, tem chuchu.
Chuchu vá pra P%$&%¨%*¨%$¨#$%$#.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Alienação e o Fubá

Alienação e o Fubá
Uma bela tarde na sala dos professores o papo estava bom. Resolvi questionar a qualidade do lanche. Falei: Pessoal, temos que melhorar a qualidade do nosso lanche. Uma broazinha, um requeijãozinho por exemplo. Nossa, foi uma prosa só. Foi aquele falatório. Um disse, é mesmo. O outro, que tal um iogurte. Uma professora falou é mesmo, vamos lutar por pãozinho mais fresco e um presuntozinho. Foram várias sugestões. Cheguei a pensar que estava numa assembleia do sindicato. Que coisa boa! As pessoas reivindicando o tal do fubá.
Logo, entra à diretora da escola na sala. Meu Deus! Foi um silêncio. Parecia que algo tinha os calados. Diretora senta. Imediatamente eu falo sobre nossas “reivindicações enquanto categoria”, como se eu pertencesse ao MSF (Movimento dos Sem Fubá). A diretora rapidamente responde: Não! Pletsch, você esta gordo!
Nossa! Foi à senha para que todos falassem da minha gordura e levassem na “brincadeira” a luta pelo fubá. Uma professora afirma: É mesmo! O Pletsch está gordo! O assunto passou a ser mesmo a minha saúde.
Fim do intervalo fiquei em estado de choque. Olho para meus alunos, meu olhar era diferente. Eu estava diferente. Eu precisava produzir neles auto-estima, vontade de lutar, de viver, produzir cidadãos, gente que pense e que se posicione na vida. Mas como? Como vão lutar? Que exemplos vão seguir? Seus professores não lutavam nem pelo fubá! Não lembro qual era o tema da aula. Mas lembro-me que contei o fato.
No dia seguinte, uma professora saindo da sala dos professores toca em mim com “carinho” e diz: sua luta valeu à pena! Não entendi nada. Entrei e vi sobre a mesa o fubá!

domingo, 6 de novembro de 2011

UNESP - Prova e Gabarito

http://download.uol.com.br/vestibular2/gabarito/2012-unesp-gabarito-primeira-fase.pdf

UNESP - Prova e Gabarito

http://download.uol.com.br/vestibular2/prova/unesp2012-caderno-primeira-fase.pdf
http://download.uol.com.br/vestibular2/gabarito/2012-unesp-gabarito-primeira-fase.pdf

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

PROVA DA UNESP 2011 - MEIO DO ANO

http://vestibular.brasilescola.com/downloads/universidade-estadual-paulista.htm

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Museu do Índio teme desalojo e exige direitos frente ao Estado

Museu do Índio teme desalojo e exige direitos frente ao Estado

Os povos acupantes do Museu do Índio, no Rio de Janeiro, alertam para a
ameaça de serem desalojados e que seja demolido o prédio do Museu do
Índio, tombado em 1997, devido à especulação imobiliária e às obras da
Copa. Reivindicam o direito de gerir com autonomia a memória e a cultura
indígenas, neste prédio onde residiu Marechal Rondon, fundador do SPI
(primeira versão da FUNAI).

Excelentíssima Senhora Presidenta da República,

Nós, os indígenas do Brasil, sempre estivemos à margem da sociedade
brasileira, apesar de um dia termos sido donos desta terra, desde as
colonizações vimos lutando e reivindicando por nossos direitos a terra,
assim como, pela educação e saúde, pelos direitos de ir e vir e o de nos
manifestarmos por meio de nossa rica cultura, para que pudéssemos viver
com dignidade, como seres humanos e acima de tudo, como cidadãos legítimos
deste país.

Sempre que chegamos às grandes cidades, como Manaus, Brasília, Rio de
Janeiro, São Paulo, dentre outras, enfrentamos grandes dificuldades para
nossa sobrevivência, pois a discriminação é visível e nos impede de
competirmos como os outros cidadãos no mercado de trabalho. Não há espaço
para todos os 35.000 indígenas, que atualmente vivem aqui no Rio de
Janeiro.

No dia 20 de outubro de 2006, indígenas de diversas etnias como: Pataxó,
Guajajara, Apurinã, Tukano, Guarani, Xukuri-Kariri, Xavante, Tikuna, Tupi
Guarani, Fulni-o ,Potiguar decidimos zelar pelo espaço do original Museu
do Índio, localizado à Rua Mata Machado, nº 126, cujo acesso atual é feito
pela Av. Radial Oeste, em frente ao Estádio Mário Filho (Maracanã), no Rio
de Janeiro, o qual se encontra em total estado de deterioração e abandono
desde 1977. Ressaltamos que até a data da nossa decisão, o casarão era
moradia de mendigos e esconderijo de marginais de toda espécie.

Desde então, este local transformou-se; além de nossa moradia em um centro
cultural (www.centroculturalindigena.jimdo.com) onde desenvolvemos
trabalhos educacionais e sociais, inclusive com projetos aprovados por
diversos órgãos, divulgando à sociedade brasileira, a nossa verdadeira
cultura indígena, como a nossa arte, hábitos, culinária, crenças, cantos,
danças, grafismos, e toda a oralidade ainda em uso em nossas florestas,
sem intermediários. Todo este trabalho visa alcançar os seguintes
objetivos:

- Mobilizar a sociedade brasileira ao respeito e apoio aos nativos deste
país;

-Fortalecer a educação nacional, erradicando estereótipos e elimi nando
preconceitos;

-Fazer valer a Lei 11645/08 promulgada no Governo do Presidente Lula que
torna obrigatório o ensino da história e cultura indígena nos currículos
escolares;

-Divulgar o conhecimento da medicina ancestral, costumes, esportes,
etnografia, rituais, dentre outros;

-Integrar harmoniosamente indígenas e sociedade sem perdas de culturas e
valores;

- Apoiar a formação universitária de profissionais para melhor assistir às
suas aldeias.

Temos muita convicção de que este casarão é o espaço mais adequado de
referência e assistência aos povos originários, no Rio de Janeiro, pois
além de estarmos desenvolvendo nele um maravilhoso trabalho, sabemos de
sua importância como marco da museografia e sua enorme influência nacional
e internacional, bem como do seu tombamento em 1997. Também neste local,
residiu o Marechal Cândido Rondon, fundador do Serviço de Proteção
Indígena (SPI), serviço este que deu origem a FUNAI. Por outro lado,
estando localizado junto ao Estádio Mário Filho (Maracanã), ponto de
destaque da malha urbana do bairro Maracanã, referência arquitetônica para
a cidade, este casarão após reforma poderá tornar-se em importante pólo
revitalizador para esta região.

Portanto a nossa expectativa e desejo são pelo reconhecimento da
grandiosidade do trabalho que vem sendo realizado e da valorização deste
patrimônio histórico sob a forma de reforma do casarão que se encontra em
ruínas. Com isso, obteremos a estrutura adequada ao prosseguimento dos
nossos projetos culturais e educacionais e poderemos continuar apoiando os
indígenas urbanos e os em trânsito de suas aldeias que estudam e
sobrevivem na cidade do Rio de Janeiro, que não contam aqui com o apoio da
FUNAI.

Atualmente, nos encontramos muito a preensivos com as obras de adequação do
Estádio Mário Filho (Maracanã) para atender aos jogos da Copa do Mundo em
2014, e pela especulação imobiliária do entorno que vem sendo
constantemente ventilada na imprensa, sentindo-nos pressionados e
preocupados em sermos expulsos do referido casarão a qualquer momento,
pois sabemos que existe uma grande expectativa dos organizadores e
patrocinadores do evento da Copa em demolí-lo, e transformá-lo em
estacionamento ou shopping.

Perguntamos:

Como pode ser demolido um imóvel do Patrimônio Histórico, tombado em 1997?

Como ficaremos, nós os indígenas ocupantes deste espaço?

Sem moradia e sem poder dar assistência aos nossos irmãos que transitam
das aldeias pra cá?

Por todos estes aspectos, vimos portanto, através desta, pedir à
Excelentíssima Sra. Presidenta da República Sra. Dilma Rousseff, Ministros
de Estado , Parlamentares de Estado, Parlamentares de estados e municípios
da Cidade do Rio de Janeiro, que nos ajudem a fazer valer o direito de
permanecer e dar continuidade ao nosso trabalho no original Museu do
Índio, otimizando e revitalizando este centro de referência nacional, em
espaço educacional e cultural dos povos originários do Brasil,
transformando-o num autêntico ponto de referência cultural da cidade do
Rio de Janeiro, possibilitando-nos preservar a cultura e originalidade
deste espaço, a fim de afirmarmos a identidade de nosso país, sem
discriminação, violência, e com igualdade social e respeito aos antigos
donos do país. Vida longa aos povos indígenas do Brasil!!!

Rio de Janeiro, 19 de setembro de 2011
Atenciosamente, Carlos Tucano
Aldeia Maracanã (Centro Cultural Indígena)

Etnias: Pataxó, Guajajara, Apurinã, Tukano, Guarani, Xukuri-Kariri,
Xavante, Tikuna, Tupi Guaran i ,Fulni-o ,Potiguar

terça-feira, 18 de outubro de 2011

ENTREVISTA COM MILTON SANTOS (5 PARTES)

PARTE 1

PARTE 2

PARTE 3

PARTE 4
PARTE 4

PARTE 5

Tumultos em Londres


Entre a violência juvenil e revolta social

José Renato Salatiel

Atos de vandalismo ou reação dos excluídos do mundo globalizado? Crimes de gangues ou reflexos da crise financeira que afeta toda a Europa? Uma semana depois, especialistas ainda tentam explicar as razões para os cinco dias de tumultos que tomaram conta de Londres e outras cidades da Grã-Bretanha.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Entre os dias 6 e 10 de agosto, os ingleses viveram os maiores distúrbios de rua desde confrontos ocorridos em Brixton, em 1995. Grupos de jovens atearam fogo em prédios e veículos, saquearam lojas e enfrentaram a polícia com bombas caseiras.

A onda de violência deixou cinco mortos. Milhares de pessoas foram detidas e mais de mil suspeitos indiciados por crimes. Os prejuízos causados às cidades são estimados em 200 milhões de euros (aproximadamente R$ 460 milhões).

O estopim foi a morte de Mark Duggan, um homem negro de 29 anos e pai de quatro filhos. Duggan foi morto a tiros por policiais em Tottenham, região norte de Londres, em 4 de agosto. Segundo a polícia, ele estava armado e teria reagido à prisão quando entrava em um táxi.

Em protesto, cerca de 120 pessoas fizeram uma marcha no dia 6 de agosto. Entre os manifestantes estavam parentes de Duggan, que pediam a apuração do caso. A marcha, que começou pacífica, terminou com ações de vandalismo promovidas por grupos de adolescentes. Eles atacaram bancos, lojas e prédios, queimaram veículos, realizaram saques e enfrentaram a Polícia Metropolitana de Londres (a Scotland Yard).

Entre 7 e 10 de agosto, os ataques se espalharam por outros bairros, como o Oxford Circus, importante centro turístico, e cidades como Birmingham, a segunda maior do país. De acordo com a imprensa londrina, a falta de uma resposta mais enérgica da polícia, que inicialmente tratou o caso como isolado, teria agravado a crise.

Para organizar os protestos, os rebeldes usaram redes sociais, como o Twitter e o Facebook, celulares e smartphones. O programa BlackBerry Messenger (BBM), que permite o envio gratuito de mensagens codificadas (impedindo o rastreamento pela polícia), foi a “arma” mais eficaz dos ingleses. O uso de novas tecnologias vem ganhando destaque entre as populações mais jovens em revoltas como a chamada “primavera árabe”, em curso em países no Oriente Médio desde o começo do ano.

A reação do governo britânico foi reforçar a segurança em regiões mais críticas com 16 mil policiais. No Parlamento, um debate entre partidos tentou explicar as causas da violência. Para o primeiro-ministro David Cameron, os tumultos foram causados por gangues de jovens e ladrões oportunistas, sem qualquer intenção política ou conotação social.

Globalização

Para especialistas, entretanto, existem outras explicações para o caos nas ruas de Londres, de cunho econômico, social e étnico.

O processo de globalização, dizem, ao mesmo tempo em que conectou as finanças e os mercados mundiais, relegou classes desprivilegiadas na Europa, sem acesso a bons empregos e às comodidades do capitalismo moderno.

Em vários países europeus, nos bairros de minorias étnicas e imigrantes, com altos índices de desemprego e criminalidade, as famílias vivem na dependência do Estado de bem-estar social.

Essas regiões se tornam, por vezes, cenários de violentos protestos. Foi o que ocorreu, por exemplo, em 2005 na França. Uma série de revoltas promovidas por jovens de origem muçulmana do Norte da África durou dois meses e levou o governo a decretar estado de emergência em Paris.

A crise econômica internacional de 2008, que afetou a Europa, teria agravado a situação da população mais carente. Para enfrentar a crise, o governo britânico adotou medidas de austeridade que atingiriam famílias beneficiadas com programas do Estado, nas quais jovens já conviviam com a falta de perspectivas de emprego. Em países como Grécia e Espanha, também afetados pela recessão, estudantes foram às ruas para protestar contra o governo.

Outro fator apontado é o abuso da Polícia Metropolitana. Um dos casos mais conhecidos foi o assassinato do brasileiro Jean Charles de Menezes, em 2005. Ele foi confundido com terrorista pela polícia no metrô, duas semanas após um atentado que vitimou 52 pessoas.

Tottenham, onde começaram os protestos, possui uma das maiores populações de imigrantes da África e do Caribe. A comunidade vive em constante tensão com a polícia, o que já motivou distúrbios em 1985.

A polícia e o governo estão corretos a respeito da participação de criminosos comuns e gangues nos tumultos na capital. Porém, não há como desprezar os problemas econômicos, culturais e sociais que estão enraizados em bairros da periferia, à espera de soluções por parte da comunidade europeia.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Lixo Espacial


Detritos em órbita oferecem risco à exploração do espaço

José Renato Salatiel*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

O lixo resultante da ação humana não polui somente terra, ar e oceanos. Desde que o primeiro satélite artificial entrou em órbita, há mais de meio século, os detritos espaciais acumulados em órbita do planeta se tornaram um problema para a vida na Terra.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Estima-se que mais de 19 mil objetos maiores de dez centímetros, além de outros 500 mil menores, compõem uma nuvem de lixo espacial ao redor da Terra. Eles provêm de foguetes e satélites desativados, fragmentos de naves e até ferramentas usadas por astronautas.

Os riscos de um destes objetos cair na Terra e atingir uma pessoa são remotos. Porém, os detritos podem colidir com satélites em operação e missões tripuladas, prejudicando a exploração do espaço.

Segundo a Nasa (agência espacial dos
Estados Unidos), cerca de 200 entram na atmosfera terrestre todos os anos e se desintegram após entrar em combustão. Alguns, no entanto, podem atingir o planeta. Foi o que aconteceu no dia 24 de setembro, quando restos de um satélite desativado caíram no Oceano Pacífico.

O UARS (Satélite de Pesquisa de Alta Atmosfera, na sigla em inglês) foi lançado em 1991, pelo ônibus espacial Discovery, com a missão de estudar a camada de ozônio. Ele foi “aposentado” em 2005, após ficar sem combustível. O satélite tinha o tamanho de um ônibus e pesava seis toneladas, sendo o maior a retornar à Terra em três décadas.

Na reentrada da atmosfera, o UARS se esfacelou. Mesmo assim, cerca de 500 kg de peças chegaram até o oceano.

Os cientistas haviam avisado que as chances de fragmentos atingirem áreas povoadas eram remotas. A razão disso é que 70% do planeta é coberto de água, sem contar as regiões desérticas.

De acordo com a Nasa, não há registros de ferimentos causados pela queda de detritos vindos do espaço. O único caso conhecido de uma pessoa atingida por entulho espacial aconteceu em 1997. A americana Lottie Williams foi alvejada no ombro por um pedaço de foguete, sem sofrer ferimentos.

O lixo espacial é produto do avanço tecnológico. Satélites de telecomunicações, mapeamento por GPS e previsão meteorológica possuem um tempo de vida útil que pode ser de até uma década. Após serem desligados, são deixados em órbita, devido ao alto custo de resgatá-los para governos e empresas. Tornam-se “ferro-velho” no espaço.

No começo do mês, um relatório do Conselho Nacional de Pesquisa alertou para os perigos do aumento de detritos, o que poderia danificar espaçonaves e satélites em funcionamento.

Acidentes

Apesar de nenhuma tragédia ter acontecido, incidentes ocorrem com certa regularidade. Em 1996, o satélite militar francês Cerise foi praticamente destruído por um pedaço de metal proveniente de um foguete lançado dez anos antes. Ônibus espaciais e até o telescópio Hubble já sofreram reparos por conta do problema.

Em 2009, o satélite russo Cosmos-2251, lançado em 1993 e, na época, desativado, colidiu com o satélite de comunicações americano Iridium 33. Foi a primeira maior colisão de satélites artificiais na órbita terrestre. Vários detritos foram gerados pelo choque, que destruiu o satélite russo.

No caso mais recente, em junho deste ano, seis astronautas foram obrigados a abandonar a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) em razão de um alerta de colisão com entulhos.

O pior cenário é a chamada Síndrome de Kessler. Segundo o consultor da Nasa, Donald J. Kessler, a colisão de detritos poderia causar uma reação em cadeia – uma peça fragmentando a outra em pedaços menores –, formando um cinturão de lixo que inviabilizaria a exploração espacial.

Hoje não existe nenhuma tecnologia que permita a “limpeza” do espaço. Os custos de uma operação de remoção dos materiais são muito altos. Além disso, há questões políticas, envolvendo propriedade e a responsabilidade de governos e empresas que colocam os aparelhos em órbita.

Em 2007, os chineses desenvolveram um satélite que destruiria outros, desativados, mas a experiência foi um fracasso: um deles se desintegrou em dois mil pedaços, agravando o problema.

Recentemente, cientistas propuseram o lançamento de um satélite que acoplaria motores propulsores aos resíduos para que eles fossem levados até a atmosfera, onde se desintegrariam. Outras propostas incluem redes metálicas gigantes, canhões lasers e fios condutores de cobre inseridos em satélites para que pudessem ser atraídos pelo campo magnético da Terra.

Mas talvez a maneira mais simples seja a programação para que os dispositivos, uma vez obsoletos, sigam as chamadas “órbitas-cemitérios”, permanecendo à deriva num espaço seguro, longe do planeta.

O
Brasil, que possui satélites de comunicações e científicos em órbita, também tem sua parcela de responsabilidade pelo lixo espacial.

Direto ao ponto volta ao topo

Em 24 de setembro, restos do UARS (Satélite de Pesquisa de Alta Atmosfera, na sigla em inglês) caíram sobre o Oceano Pacífico. O satélite foi lançado em 1991 e “aposentado” em 2005, após ficar sem combustível. Ele tinha o tamanho de um ônibus e pesava seis toneladas, sendo o maior a retornar à Terra em três décadas.

Desde que o primeiro satélite espacial entrou em órbita, há mais de meio século, os detritos espaciais acumulados em órbita do planeta se tornaram um problema para a vida na Terra. Apesar dos riscos de atingirem pessoas serem remotos, as colisões com outros satélites e naves espaciais são cada vez mais comuns.

Estima-se que mais de 19 mil objetos maiores de dez centímetros, além de outros 500 mil menores, compõem uma nuvem de lixo espacial ao redor da Terra. Eles provêm de foguetes e satélites desativados, fragmentos de naves, combustível e até ferramentas usadas por astronautas.

Hoje não existe nenhuma tecnologia que permita a “limpeza” do espaço. Os custos de uma operação de remoção do lixo são muito altos. Além disso, há questões políticas, envolvendo propriedade e a responsabilidade de governos e empresas que colocam os aparelhos em órbita.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Bastante simbólico essa foto.

ESCALA CARTOGRÁFICA

Escala cartográfica

Como interpretar reduções em mapas

Cláudio Mendonça*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
O mapa é uma imagem reduzida de uma determinada superfície. Essa redução - feita com o uso da escala - torna possível a manutenção da proporção do espaço representado. É fácil reconhecer um mapa do Brasil, por exemplo, independente do tamanho em que ele é apresentado, pois a sua confecção obedeceu a determinada escala, que mantém a sua forma. A escala cartográfica estabelece, portanto, uma relação de proporcionalidade entre as distâncias lineares num desenho (mapa) e as distâncias correspondentes na realidade.

As escalas podem ser indicadas de duas maneiras, através de uma representação gráfica ou de uma representação numérica.

Escala gráfica
A escala gráfica é representada por um pequeno segmento de reta graduado, sobre o qual está estabelecida diretamente a relação entre as distâncias no mapa, indicadas a cada trecho deste segmento, e a distância real de um território. Observe:


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De acordo com este exemplo cada segmento de 1cm é equivalente a 3 km no terreno, 2 cm a 6 km, e assim sucessivamente. Caso a distância no mapa, entre duas localidades seja de 3,5 cm, a distância real entre elas será de 3,5 X 3, ou 10,5 km (dez quilômetros e meio). A escala gráfica apresenta a vantagem de estabelecer direta e visualmente a relação de proporção existente entre as distâncias do mapa e do território.

Escala numérica
A escala numérica é estabelecida através de uma relação matemática, normalmente representada por uma razão, por exemplo: 1: 300 000 (1 por 300 000). A primeira informação que ela fornece é a quantidade de vezes em que o espaço representado foi reduzido. Neste exemplo, o mapa é 300 000 vezes menor que o tamanho real da superfície que ele representa.

Na escala numérica as unidades, tanto do numerador como do denominador, são indicadas em cm. O numerador é sempre 1 e indica o valor de 1cm no mapa. O denominador é a unidade variável e indica o valor em cm correspondente no território. No caso da escala exemplificada (1: 300 000), 1cm no mapa representa 300 000 cm no terreno, ou 3 km. Trata-se portanto da representação numérica da mesma escala gráfica apresentada anteriormente.


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Caso o mapa seja confeccionado na escala 1 300, cada 1cm no mapa representa 300 cm ou 3 m. Para fazer estas transformações é necessário aplicar a escala métrica decimal:


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ou



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Aplicação da escala
A escala (E) de um mapa é a relação entre a distância no mapa (d) e a distância real (D). Isto é:


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As questões que envolvem o uso da escala estão geralmente relacionadas a três situações:

1. Calcular a distância real entre dois pontos, separados por 5 cm (d), num mapa de escala (E) 1: 300 000.


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2. Calcular a distância no mapa (d) de escala (E) 1: 300 000 entre dois pontos situados a 15 km de distância (D) um do outro.


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3. Calcular a escala (E), sabendo-se que a distância entre dois pontos no mapa (d) de 5 cm representa a distância real (D) de 15 km.


reprodução


Grande e pequena escala
Para a elaboração de mapas de superfícies muito extensas é necessário que sejam utilizadas escalas que reduzam muito os elementos representados. Esses mapas não apresentam detalhes e são elaborados em pequena escala. Portanto, quanto maior o denominador da escala, maior é a redução aplicada para a sua elaboração e menor será a escala.

As escalas grandes são aqueles que reduzem menos o espaço representado pelo mapa e, por essa razão, é possível um maior detalhamento dos elementos existentes. Por isso, são aquelas cujo denominador é menor. As escalas maiores normalmente são denominadas de plantas que podem ser utilizadas num projeto arquitetônico ou para representar uma cidade. De acordo com os exemplos já citados a escala 1: 300 é maior do que a escala 1: 300 000.

A escolha da escala é fundamental ao propósito do mapa e ao tipo de informação que se pretende destacar. Numa pequena escala o mais importante é representar as estruturas básicas dos elementos representados e não a exatidão de seu posicionamento ou os detalhes que apresentam. Aliás, o detalhamento neste tipo de mapa compromete a sua qualidade e dificulta a sua leitura. Numa grande escala, como plantas de uma casa ou de uma cidade, existe uma maior preocupação com os detalhes, mas assim mesmo as informações devem ser selecionadas para atender apenas o objetivo pelo qual foram elaboradas.
*Cláudio Mendonça é professor do Colégio Stockler e autor de "Geografia Geral e do Brasil" (Ensino Médio) e "Território e Sociedade no Mundo Globalizado" (Ensino Médio).

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Dicas para o ENEM

Algumas dicas para o ENEM

CHUVAS NA SERRA: - As chuvas que castigaram a região serrana do Rio no verão podem aparecer no Enem. Segundo o professor de geografia Maurício Novaes, do CEL, a prova privilegia temas ligados à urbanização e ao meio ambiente. O impacto da ocupação desordenada de encostas e a erosão do solo estão ligados à tragédia.

COPA E OLIMPÍADAS: - Ninguém fala de outra coisa: qual será o legado da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016? O tema pode estar presente em diversas disciplinas. Na matemática, de acordo com o coordenador do pH Luís Felipe Abad, cálculos de geometria plana, como a área de um estádio, ou volume, para saber a quantidade de cimento a ser usada em uma obra, podem ser exigidos. Para Novaes, na geografia é possível tratar de investimentos em infraestrutura nas cidades-sede da Copa, crescimento do turismo e necessidade de qualificação de mão de obra para os eventos.

ACIDENTE NUCLEAR: - O terremoto no Japão e a consequente tragédia na usina de Fukushima comoveram o mundo e têm chance de cair no exame. Na parte de Ciências Naturais e suas Tecnologias, a abordagem deve envolver o que provocou o acidente e as medidas tomadas para minimizar a tragédia, assim como os efeitos da radiação e a contaminação da água e do solo. Até mesmo em história o assunto pode estar presente, principalmente relacionado à Segunda Guerra Mundial, durante a qual os Estados Unidos jogaram duas bombas atômicas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, e ao poder de recuperação japonês após os ataques.

MEIO AMBIENTE: - No ano que vem será realizada no Rio de Janeiro a conferência sobre o clima Rio 20. Nela, serão discutidas novas metas de redução de emissão de gases causadores do efeito estufa, entre outras medidas. Além disso, o Código Florestal, aprovado na Câmara dos Deputados e em discussão no Senado, provoca polêmica com suas propostas de mudança na legislação para crimes ambientais, exploração em áreas de preservação permanente, entre outras. Os dois temas podem ser abordados nos âmbitos da química, da biologia e da geografia. Questões sobre energias limpas, combustíveis renováveis, créditos de carbono e também os ciclos da natureza podem aparecer. É importante conhecer asvantagens e desvantagens do uso da Energia Nuclear, devido à tragédia na Usina de Fukushima.

MUNDO ÁRABE: - Este ano, o mundo viu explodirem diversas revoltas nos países árabes, no norte da África e no Oriente Médio. O professor de história Ulisses Martins, do Colégio Notre Dame Recreio, diz que esses eventos podem ser ponto de partida para a cobrança de conteúdos relacionados ao imperialismo, influência americana na região, regimes totalitários e até mesmo disputas ligadas à religião. O assassinato do líder da al-Qaeda Osama Bin Laden pelos EUA pode trazer também perguntas sobre terrorismo e as guerras do Iraque e do Afeganistão.

VULCÃO CHILENO: - Um vulcão no Chile provocou a maior confusão na América do Sul, com reflexos até na Austrália e na Nova Zelândia. Na química, questões relacionadas à composição do magma, os gases emitidos e os impactos disso no solo e nos sistemas hídricos podem cair. O vulcão também pode ser o gancho para falar de fenômenos naturais também na parte de Ciências Humanas e suas Tecnologias.

DITADURA MILITAR: - A eleição da presidente Dilma Rousseff, uma ex-militante de esquerda que viveu na clandestinidade e foi presa durante a ditadura militar, gerou grande expectativa, principalmente em relação à abertura de arquivos do período. Somado a isso, há grande mobilização pela aprovação do fim do sigilo secreto de documentos do governo e a criação de uma comissão da verdade para investigar os crimes ocorridos naquela época. Ou seja, assunto quente e atual.

ANO DA QUÍMICA: - Em 2011 são comemorados o Ano Internacional da Química, os 100 anos de Marie Curie, pioneira nas pesquisas sobre radioatividade, e também os 100 anos do modelo atômico de Rutherford. Olho vivo nesses temas.

CENSO 2010: - O Enem adora um gráfico e uma tabela. Com os dados do último censo divulgados no início do ano, é bem provável que haja questões ligadas à população, com uso desses recursos.

Fonte: Agência OGlobo

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Êeeeeeeeeeeeeeee

Fui no show do Restart...Confesso que existe muito preconceito com os garotos...Eles são bons...Falta um repertório, Letras com significados, apreender tocar guitarra, violão, baixo e bateria, falta uma voz afinada ao grupo. Mas gostei deles, faltam alguns detalhes apenas. O resto é preconceito!

Dilma na Europa dizendo que o Brasil está pronto pra ajudá-los é piada de pobre!

O Brasil tem reservas de 350 milhões. Com essa grana não acaba nem com a fome no Brasil.

Viva os estudantes chilenos!

Lula fanfarrão deve estar voando nesse momento. Como sempre.

Disciplina é liberdade!

Sinto-me preso!

Hoje é dia de São Francisco de Assis...Paz e Bem! Fui Franciscano da Ordem Terceira...Acho que existe um Francisco dentro de mim...

Pra eu viver nessa vida...Dependo muito de pessoas boas...

Paz e Bem!

‎"Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível".

Abri uma conta no Bradesco. Forçado é claro!


sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Programa de TV do PSOL - 29 de setembro 2011

Meus alunos...

Meus alunos plantaram dez mudas de árvores...Queremos sombra num presente de muito calor.

Êeeeeeeeeeeeeeee

Coisa doida! SP vai reduzir aulas Português e Matemática...

Gostei! Ex cantora Gretchen afirma que se prostituiria para alimentar seus filhos.

Como polícia adora bater em professor, hein?

Quem matou a Juíza do RJ? A PM!

Se eu não fosse Professor, seria pintor de parede ou pedreiro.

Dilma assume, Saúde no Brasil está péssima.

Heródoto na Record News está ótimo. Mas o cabelo...

Ainda existe o Programa Silvio Santos?

Ei, Sarney? Vai #$%%@¨%%@

Todas as Escolas em ministro aulas foram bem no ENEM...

Eu amo uma pessoa que tem Lúpus




quinta-feira, 29 de setembro de 2011

GOLBERY & COMISSÃO DA VERDADE


Luiz Cláudio Cunha em 27/09/2011 na edição 661


“Me sinto extremamente ofendido, com o artigo do Sr. Luiz Cláudio Cunha. Em parte pela infantilidade que entorta os fatos rumo ao que se deseja, ou seja: Demagogia. Em parte pela covardia de ofender o caráter de quem já não pode mais defender-se. Obrigado. (Golbery do Couto e Silva Neto, e-mail ao Observatório da Imprensa, 9/9/2011)

O sr. Golbery Neto, compreensivelmente, não gostou do que foi publicado neste Observatório (ver “Golbery: benfeitor em Rio Grande, malfeitor no Brasil“) sobre o avô. Gastou quatro linhas e 44 palavras, sem nenhum argumento, para tentar desqualificar um texto de 221 linhas e 2.552 palavras calcado em fatos e na ficha do general gaúcho, inventor do golpe de 1964 e prestes a ser homenageado com um monumento em sua terra natal, Rio Grande.


Quase nada se sabe do neto, que diz residir no Rio de Janeiro e se identifica profissionalmente como ‘internacionalista’, seja lá o que isso possa significar. Mas muito se sabe do avô, que, aliás, sabia muito mais. Sabia quase tudo sobre todos nós, como criador e chefe primeiro do SNI, o Serviço Nacional de Informações que bisbilhotava a vida dos brasileiros em geral, e dos opositores em particular. A vida pregressa de Golbery do Couto e Silva (1911-1987) ganhou súbita atualidade em agosto passado, com a desastrada ideia dos vereadores e do prefeito de Rio Grande (RS) de homenagear o general no mês do centenário de seu nascimento, cravando um monumento na praça central da cidade.


A oferenda sangrou como uma estaca na memória dos brasileiros, especialmente dos gaúchos, que justamente nesse agosto festejavam o cinquentenário da Campanha da Legalidade – o movimento popular de 1961 liderado pelo governador Leonel Brizola em defesa da posse de João Goulart na presidência da República, vaga com a renúncia inesperada de Jânio Quadros. A transição constitucional foi vetada pelos três ministros militares que leram um manifesto golpista redigido, ironicamente, pelo então coronel Golbery do Couto e Silva. Essa brutal contradição entre as poucas benfeitorias municipais e as muitas malfeitorias nacionais do general teve baixa repercussão na imprensa – com exceção de alguns blogs e opiniões isoladas, contra ou a favor – e nenhum eco entre os políticos brasileiros, desconectados com a coerência histórica e descomprometidos com a memória nacional.


O jovem prefeito de Rio Grande, Fábio Branco, de 39 anos, nem justificou a homenagem intempestiva: “Não vou fazer juízo da ditadura militar. Eu nem era nascido…”. O neto do general, talvez ainda mais jovem, também evita qualquer consideração sobre a obra política do avô, sob o infantil argumento de que seria “covarde” avaliar a biografia dos mortos. Sob este prisma obtuso, prefeito e neto se eximem, portanto, de julgar episódios como a escravidão e o nazismo ou de opinar sobre personalidades já finadas como Hitler, Stálin, Pinochet ou Médici.


Imprensa complacente


Esta omissão deliberada não contaminou os cidadãos mais conscientes, de Rio Grande ou não. Uma pesquisa online do jornal local, o Agora, mostrou que mais da metade (58,5%) da população discorda do monumento. Um abaixo-assinado na internetregistra mais de 1.600 assinaturas de todo o país condenando a homenagem. Indignados, movimentos de sindicatos, estudantes e populares de Rio Grande formaram uma Comissão “Ditadura Nunca Mais” e, na semana passada, entregaram às autoridades locais dois livros do jornalista Elio Gaspari: A Ditadura Escancarada foi ofertadaao prefeito sem juízo e A Ditadura Derrotada foi agraciada aos vereadores sem tino. Nas duas obras, parte de uma magistral tetralogia de 2002 – portanto escrita quando o general, morto em 1987, já não podia mais se defender, para desencanto do neto – o feiticeiro Golbery refulge merecidamente como personagem central, dividindo a cena com o sacerdote Ernesto Geisel.


A mesma imprensa complacente de hoje com o passado tenebroso do general lembra muito a imprensa conivente de ontem com o general golpista de sempre. Golbery carrega na sua ficha a proeza de ter derrubado Jango duas vezes do poder. A primeira, em 1954, quando redigiu o manifesto de 82 coronéis e tenentes-coronéis que levou à demissão de João Goulart, então ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, criticado pelos militares pelo aumento de 100% do salário mínimo. A segunda, dez anos mais tarde, quando depôs Jango da presidência da República no golpe vitorioso de 1964, resultado final de uma científica, pensada e cara conspiração civil-militar que juntou o grande empresariado nacional e multinacional com a direita dos quartéis sob a fachada do dissimulado IPES, o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais. O coordenador do IPES, que deu em 1964 o troco no golpe frustrado em 1961 pela brava resistência dos seus conterrâneos gaúchos, era o incorrigível Golbery.


Seria útil que o jovem neto de Golbery aprendesse sobre os fatos da tortuosa carreira do avô lendo um livro, pelo menos um livro, o clássico1964: a conquista do Estado – ação política, poder e golpe de classe (Editora Vozes, 1981), do professor uruguaio René Armand Dreifuss (1945-2003). Ali, em 814 páginas irrespondíveis, Dreifuss desentorta os fatos para revelar ao neto distraído, com documentos do próprio IPES, a lenta, gradual e segura conspirata do vovô Golbery para derrocar um governo democrático e botar no seu lugar uma ditadura de 21 anos sob o rodízio de cinco generais-presidentes – três deles (Castelo Branco, Geisel e Figueiredo) tendo o próprio Golbery como inquilino e feiticeiro-mor no Palácio do Planalto.


O IPES nasceu em novembro de 1961, três meses após a vitória popular da Legalidade – quando nem o prefeito de Rio Grande, nem o neto do general, haviam nascido. Parecia um inocente clube de homens de negócios. Entretanto, na sua face oculta, sob siglas e codinomes, o IPES concentrava a execução metódica de um pensado plano da burguesia nacional para combater de forma clandestina os seus três principais inimigos: o governo Jango, a aliança nacionalista do PTB e o comunismo, que aparentemente resumia tudo aquilo.


O braço político ostensivo do IPES de Golbery era o IBAD, Instituto Brasileiro de Ação Democrática, que apesar do nome tinha ligações com o MAC, Movimento Anticomunista, e com a organização da direita católica Opus Dei. O fundador do IBAD em 1959 foi o integralista Ivan Hasslocher, dono da Promotion, uma agência de publicidade que promovia o lobby do IBAD e seu braço parlamentar, a ADP – Ação Democrática Popular, um núcleo conservador de 160 parlamentares da centro-direita no Congresso Nacional reunido em torno da UDN, PSD e PSP. Segundo Dreifuss, a ADP tinha sua ação política patrocinada pela estação no Rio de Janeiro da CIA, a agência de inteligência americana focada em campanhas políticas e grupos de pressão.


Assalto sincronizado


Homens da mesma linha de pensamento e com igual propósito juntaram, a partir de 1962, as duas entidades: nascia o complexo IPES/IBAD, matriz ideológica e operacional da conspiração que daria o golpe e, depois, forneceria os quadros e dirigentes do aparato estatal que sustentou o regime militar. O IPES operava como centro estratégico e o IBAD, como uma unidade tática. O monstro crescia junto com a conspiração. Em 1963, os 80 membros originais do IPES pularam para 500. Eram sócios 26 dos 36 líderes da FIESP, a maior federação industrial do país. A entidade se espalhava pelas capitais do país.


A articulação dos empresários com os militares era feita pelo Grupo de Levantamento da Conjuntura (GLC) do IPES, comandado pelo general Golbery, que atuava sobre o I (Rio) e III (Porto Alegre) Exércitos. A “ordem de serviço com calendário” do GLC, que definia a estratégia de ação, tinha uma edição limitada de 12 exemplares, que não eram registrados nas atas do IPES. A equipe de Golbery distribuía nos quartéis uma circular bimestral mimeografada, sem citação da fonte, avaliando a atividade “comunista” no país, apontando o dedo para subversivos infiltrados no governo e mapeando suas ações.


Só no Rio de Janeiro o clandestino GLC de Golbery tinha três mil telefones ilegalmente grampeados. O grupo dirigente do general ocupava quatro das 13 salas que o IPES havia alugado no 27° andar do edifício Avenida Central, na Avenida Rio Branco, então o prédio mais moderno no centro da cidade. A conta do telefone era faturada em nome do general da reserva Henrique Geisel, irmão de Ernesto, futuro sacerdote no Planalto.


O GLC do vovô Golbery escrutinava a produção diária da imprensa do país, um total de 14 mil edições no ano, e produzia mensalmente cerca de 500 artigos, disseminados pelos jornais ou divulgados em forma de palestras. O Grupo de Atuação Parlamentar (GAP) do IPES tinha vergonha do que fazia. Proibia qualquer menção à sigla, que era camuflada como “Escritório de Brasília”. Ele coordenava a campanha anti-Jango na capital, mas quem aparecia publicamente era o IBAD e o fazendeiro baiano João Mendes, deputado udenista e líder ostensivo da Ação Democrática Parlamentar.


O plano era simples e mortal: o IPES de Golbery, por intermédio do IBAD e da ADP, emparedava o governo no Congresso, criando um beco sem saída parlamentar e um ponto morto do Executivo. A inércia legislativa levaria ao clamor popular pelo poder “moderador” das Forças Armadas, única instituição capaz de tirar o país daquele atoleiro fabricado pela conspiração urdida pelo general no Parlamento.


Neste trabalho era fundamental manipular a opinião da sociedade. Na dura expressão de René Dreifuss, “o IPES conseguiu estabelecer um sincronizado assalto à opinião pública” pela relação especial com os principais veículos da mídia nacional. O objetivo central do Grupo de Opinião Pública (GOP) do IPES era disseminar seus objetivos na imprensa falada e escrita. Dissimulado, o grupo evitava o nome “opinião pública”, preferindo as expressões “divulgação” e “promoção”. José Luís Moreira de Souza, dono da Denison Propaganda, dizia que “conquistar a opinião pública” era a essência da ação política do grupo. O principal articulador do GOP era um ex-comissário de polícia, José Fonseca, que começou na vida como “tira” no 16° Distrito Policial de São Cristóvão, um subúrbio operário da zona norte do Rio, no réveillon de 1952.


Conspiração sem twitter


Em 1958, trocou a delegacia por um cargo de relações públicas da Light, a empresa americana de energia que se tornaria uma das líderes do IPES e da conspiração. Em 1963, um ano antes do golpe, o ex-comissário José Rubem Fonseca deu aos 38 anos seu primeiro tiro certeiro na literatura: lançou o livro de contos Os prisioneiros com o nome literário de Rubem Fonseca. O festejado autor de Feliz Ano Novo, A grande arte e Bufo & Spallanzani tornou-se nas décadas seguintes o maior contista vivo do país, ganhador em 2003 do Prêmio Camões, uma espécie de Nobel para escritores da língua portuguesa.


Outros destaques do GOP no Rio eram os jornalistas Glauco Carneiro e Wilson Figueiredo, este do corpo editorial do Jornal do Brasil.Em São Paulo, o GOP atuava com Geraldo Alonso, dono da Norton Propaganda, e nomes ilustres de O Estado de S.Paulo, como Ênio Pesce e Flávio Galvão. Contava ainda com Jorge Sampaio e Alves de Castro, os dois nomes centrais do Repórter Esso da TV Tupi, o equivalente ao Jornal Nacional da Rede Globo de hoje, patrocinado pela Esso do Brasil, membro importante do IPES do vovô Golbery.


Em tempos sem e-mail ou twitter, o GOP se valia da tecnologia da época: enviava milhares de cartas e telegramas e fazia chamadas telefônicas, antecipando em décadas o odiado telemarketing. Em novembro de 1962 chegava a três mil nomes a lista de organizações de rádio e TV mobilizada pelo GOP. Aliado a ele funcionava o GPE, Grupo de Publicações/Editorial, que disseminava material impresso pelo país. Esta campanha de guerra psicológica era tarefa do ex-comissário e contista Rubem Fonseca, que incluía intelectuais respeitados como Augusto Frederico Schmidt, Odylo Costa Filho e Rachel de Queiroz, prima do general Castelo Branco, líder do golpe que derrubou Jango. Rachel foi presa no golpe do Estado Novo, em 1937, acusada de subversiva, e teve seus livros queimados. Um quarto de século depois, a comunista de Fortaleza era uma intelectual engajada na equipe de propaganda de direita de Rubem Fonseca no IPES. O primo Castelo Branco, já ex-presidente, morreu num acidente aéreo em 1967 quando retornava de um passeio à fazenda da prima Rachel.


Os propagandistas do GOP atuavam em três frentes: artigos para jornais e revistas, panfletos para circular entre estudantes, militares e operários, e livros que comparavam a democracia com a empresa privada. Em comum, eram todos anticomunistas, antitrabalhistas e antinacionalistas – a tríade que embalava o cérebro do vovô Golbery. Nomes fortes do mercado editorial, como Saraiva, Cia. Editora Nacional e GRD Editora, colaboravam na publicação da chamada “literatura democrática”.


Balcão de deputados


A escolha dos candidatos agraciados com o apoio financeiro pelo IPES de Golbery obedecia a uma regra rígida, quase um contrato de compra e venda. Quem se habilitava a integrar a lista de “democratas convictos e anticomunistas de primeira ordem” passava pelo crivo dos analistas do complexo IPES/IBAD. Mais importante do que a filiação partidária era a orientação das ideias. Cada candidato era compelido a assinar um “ato de compromisso ideológico”, pelo qual prometiam lealdade ao IBAD acima da fidelidade ao seu partido, prometendo ainda lutar contra o comunismo e a defender o investimento estrangeiro.


Mas a mercadoria custava caro. O chefe do GAP (Grupo de Ação Parlamentar) do IPES, o banqueiro Jorge Oscar de Mello Flores, avaliava os candidatos pelo coeficiente eleitoral. De início, ele calculava que cada deputado “custaria” cerca de 6 milhões de cruzeiros (cotação atual: R$ 317 mil), mas percebeu que esta seria a conta de nomes da Paraíba e outros Estados menores. O preço aumentava no Ceará e ainda mais na Bahia. Os candidatos de Rio e São Paulo eram mais caros, explicou Mello Flores, avaliando a conta per capita dos deputados no balcão do IPES do vovô Golbery: 15 milhões de cruzeiros (cotação atual: R$ 792 mil).


O orçamento de um candidato pouco conhecido e de limitada agressividade eleitoral incluía despesas com equipamento de som, 40 mil cartazes, 600 faixas, fotografias, espaço em jornais, mensagens no rádio e TV, discos de jingle, gasolina, correspondência e pessoal de apoio… Tudo isso ao custo de uns 10 milhões de cruzeiros, o que não era pouca coisa. Dez milhões, que hoje valem R$ 528 mil, equivaliam então à renda diária de 20 mil trabalhadores de salário mínimo, número de votos atualmente suficientes para eleger vereador em capital.


O IPES de Golbery recebeu apoio financeiro de 297 corporações americanas. Passavam o chapéu entre empresas britânicas, suecas, alemãs. A Fundação Konrad Adenauer, órgão do Partido Democrata Cristão alemão, canalizava recursos pelo sólido complexo siderúrgico Mannesmann e pela gigante Mercedes Benz. O neto certamente não sabia, mas o vovô Golbery encarregou-se pessoalmente do contato com o presidente da Mercedes.


Grampo na Casa Branca


Os amigos do general estavam ativos, também, em Washington. Na segunda-feira, 30 de julho de 1962, o presidente John Kennedy entrou no Salão Oval e ligou pela primeira vez seu novo brinquedinho, instalado no fim de semana: o sistema secreto de gravação de voz da Casa Branca. A estreia prometia: era uma conversa cabeluda de Kennedy com o seu embaixador no Brasil, Lincoln Gordon, parceiro de Golbery no caminho para o golpe militar que derrubaria João Goulart dois anos depois. Começava pelo gasto não contabilizado de US$ 8 milhões nas eleições de 1962, adubando secretamente candidatos apoiados pela CIA e simpáticos aos EUA. A conexão americana do mundo político brasileiro com os militares golpistas era feita por outro amigo do peito de Golbery – o discreto adido militar da embaixada, coronel Vernon Walters, que chegaria a vice-diretor da CIA no auge do Caso Watergate que derrubou Nixon, em 1974.


A transcrição das fitas foi revelada no livro do jornalista americano Tim Weiner, Legado de Cinzas – Uma história da CIA (Ed.Record, 2008), outra leitura instrutiva que poderia iluminar a cabeça de Golbery Neto. Ela mostra, numa frase de Gordon para Kennedy, que o alvo central da conspiração era o mesmo de Golbery – o próprio Jango:


– Para expulsá-lo, se necessário – disse o embaixador, esclarecendo – O posto da CIA no Brasil deixará claro, discretamente, que não somos necessariamente hostis a qualquer tipo de ação militar, em absoluto, se ficar claro que o motivo da ação militar é…


–… contra a esquerda – completou o presidente Kennedy, dando o sinal verde para o golpe que aconteceria vinte meses depois.


Na véspera da eleição de 1962, a Promotion de Ivan Hasslocher, líder do IBAD, arrendou o jornal carioca A Noite por 90 dias, ao custo mensal de 2 milhões de cruzeiros (cerca de R$ 100 mil no câmbio atual) para propaganda direta. A revista Repórter Sindical também era operada pela entidade. O órgão oficial do IBAD, Ação Democrática, circulava mensalmente com 250 mil exemplares e textos de gente graúda como o economista Eugênio Gudin e o líder udenista Aliomar Baleeiro. Era gratuita e, ainda assim, não tinha um único anúncio. No início de 1963, um manifesto de 500 profissionais de prestígio, organizados pelo Centro Democrático de Engenheiros, ligado ao IPES, foi publicado no Jornal do Brasil e em O Estado de S.Paulo.


Manifestos variados, todos “democráticos”, proliferavam na imprensa e eram retransmitidos pela dupla IPES/IBAD. Eles tinham uma agência de notícias, a Planalto, que redistribuía o material a 800 emissoras de rádio e jornais do país. Tudo gratuito, tudo pela pátria, tudo pela “democracia”. Um milhão de cópias da Cartilha para o Progresso, feita pelo IPES, exaltando os benefícios da Aliança para o Progresso do governo americano, foi encartada como suplemento da Fatos&Fotos, revista na época de grande circulação da Editora Bloch.


O extremista do Estadão


Num país de elevado analfabetismo, o esperto vovô Golbery percebeu a importância do rádio e da nascente televisão. O IPES gastou 10 milhões de cruzeiros para produzir 15 programas de TV para três canais diferentes. Eram entrevistas de questionários preparados pela entidade, com jornalistas de confiança e gente selecionada para responder sobre reforma agrária, custo de vida, democracia. Estavam escalados nesse time alguns ilustres conterrâneos de Golbery, como o senador Mem de Sá (presenteado com a cadeira de ministro da Justiça no governo Castelo Branco), os deputados Daniel Faraco, Egydio Michaelsen e Raul Pilla, o prefeito de Porto Alegre Loureiro da Silva e o arcebispo dom Vicente Scherer.


Em 1962, o IBAD operava diariamente mais de 300 programas de rádio no horário nobre das principais cidades do país. A rede de mais de 100 estações ligadas a ele formava a “Cadeia da Democracia”, sob o comando do senador João Calmon, dos Diários Associados, que tinha o cuidado de ir ao ar no mesmo horário das transmissões do líder trabalhista Leonel Brizola, que derrotara Golbery um ano antes com a “Cadeia da Legalidade”.


O maior produtor de filmes comerciais do país, Jean Manzon, foi contratado por Golbery para produzir filmes como Que é a democracia, Deixem o estudante estudar, Uma economia estrangulada, Criando homens livres. Eram filmetes de 10 minutos, projetados antes do vibrante faroeste exibido nas matinês do interior do país, onde se espalhavam três mil salas de cinema. Quando a plateia não aparecia, o cinema ia até o público. O IPES montou o projeto do “cinema ambulante” em caminhões abertos e ônibus com chassis especiais, que percorriam favelas, bairros populares e cidades distantes. Era um mutirão democrático: a Mesbla fornecia os projetores, a Mercedes Benz emprestava os caminhões e a CAIO montava a carroceria dos ônibus.


Na medida em que avançava a conspiração, crescia a presença militar sobre a base parlamentar. Era hora de sair do discurso para a prática. O IBAD cede seu lugar de destaque para outra sigla – a ESG, a Escola Superior de Guerra, de onde provinham Golbery e o núcleo fardado do golpe. O novo complexo IPES/ESG alinhava 330 oficiais, de majores a generais de Exército, fazendo a ligação do mundo empresarial com os quartéis. Sempre sob a liderança do vovô Golbery, lá estavam nomes que, mais tarde, fariam parte do poder revolucionário, como ministros ou até presidentes. Orlando Geisel, Mário Andreazza e Walter Pires formulavam planos com Castello Branco, Ernesto Geisel e João Figueiredo.


Um grupo que Dreifuss nomeia como “Extremistas de Direita” juntava fanáticos anticomunistas com adeptos da modernização industrial conservadora. Curiosamente, o grupo era mais ligado ao jornalista Júlio de Mesquita Neto, expoente da “linha dura” paulista que pregava uma forte mensagem anticorrupção e contra a esquerda. Com Mesquita estavam seu irmão Ruy e os deputados Abreu Sodré e Paulo Egydio Martins, mais tarde governadores indiretos de São Paulo indicados pelos quartéis.


Os três ministros militares que Golbery transformou em locutores de seu manifesto no golpe frustrado de 1961 – o marechal Odylio Denys, o almirante Sílvio Heck e o brigadeiro Grun Moss – mandaram emissários da conspiração a São Paulo para um encontro, no início de 1962, com Júlio Mesquita Filho, a quem entregaram um documento sobre as normas que iriam orientar o governo militar após a queda de Jango. O grupo, integrado pelos generais Cordeiro de Farias e Orlando Geisel, foi mais explícito com o dono do Estadão: o regime discricionário teria de ficar no poder por pelo menos cinco anos. Animado com a conversa, Mesquita chegou ao ponto de sugerir oito nomes para o futuro ministério revolucionário. Com o jurista Vicente Rao, advogado da mineradora americana Hanna, Mesquita chegou a fazer o rascunho de um Ato Institucional para fechar Senado, Câmara e Assembleias e cassar mandatos – o mesmo instrumento de força que a ditadura anos depois faria seu jornal engolir com o AI-5, na forma de versos e receita de bolo.


Ciência e violência


No Rio Grande do Sul, quartel-general do III Exército, a maior concentração de tropa terrestre do país e foco principal da resistência de Brizola na Campanha da Legalidade, dois terços da oficialidade já estavam engajados na rebelião. O coronel da Brigada Militar Peracchi Barcelos (PSD), eleito deputado pela máquina do IPES do general Golbery, tratava de sublevar a força pública do estado.


O general Armando Cattani – que comandou no período 1958-59 a poderosa 6ª Divisão de Exército em Porto Alegre, exatamente quando Brizola deixava a prefeitura da capital gaúcha para assumir o governo do estado – organizava grandes fazendeiros no interior do Rio Grande do Sul em unidades paramilitares que seriam acionadas na hora precisa do golpe.


O general Cattani era tão amigo do general Golbery que foi selecionado por ele para assumir como interventor a prefeitura de sua terra natal, Rio Grande. O posto ficou vago de repente graças à quartelada de março de 1964, que transformou a cidade portuária em “área de segurança nacional” e cassou o mandato do prefeito do PTB, Farydo Salomão, no cargo havia apenas três meses. Não é a juventude, mas a alienação, que pode explicar o desconhecimento que o atual prefeito de Rio Grande e o neto do general têm sobre as violências praticadas pela ditadura de Golbery e seus comparsas nos primeiros dias do golpe exatamente na cidade onde ele nasceu.


Golbery, evidentemente, não tem nenhum envolvimento pessoal com as truculências na sua terra. Mas o general tem tudo a ver com o regime de força que permitiu esses abusos. Como porto e área estratégica no extremo sul do país, Rio Grande coordenava a repressão ali pela SOPS-RG, a Seção de Ordem Política e Social que unia forças do 6º Grupamento de Artilharia de Campanha (GAC) do Exército, o Batalhão de Polícia Motorizada, a Polícia Federal e a Polícia Civil, que cobriam seis municípios da região, de Pelotas a Chuí.


A SOPS era subordinada ao DOPS de Porto Alegre, onde brilhava o nome mais importante do aparato repressivo gaúcho, o delegado Pedro Seelig. Foi pelo Chuí que ele devolveu à ditadura uruguaia os ativistas Lilian Celiberti e Universindo Diaz, sequestrados em Porto Alegre em novembro de 1978 por um comando binacional da Operação Condor, integrado por agentes de Seelig e militares enviados por Montevidéu. A SOPS de Rio Grande e o DOPS de Seelig eram todos membros fraternais da “comunidade de informações”, gerenciada desde Brasília pelo SNI criado pelo grande-irmão Golbery.


O neto ainda não deve saber, mas as brutalidades do regime não poupavam nem os conterrâneos do avô. Um bom exemplo foi relatado por Leandro Braz da Costa, mestrando em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, num trabalho sobre repressão publicado este ano na Jornada de Estudos sobre Ditadura e Direitos Humanos, do Arquivo Público do Rio Grande do Sul. O historiador ouviu em 2009 um inspetor lotado em Rio Grande, na década de 1970, na 7ª Delegacia Regional da Polícia Civil, dotada de celas especiais com pau-de-arara e choque elétrico para a prática de torturas. A sofreguidão por informações do preso excitava a criatividade, como revela o inspetor:


[...] quando o delegado exigia que obtivéssemos rapidamente uma confissão ou uma informação, tínhamos que apertar o cara ainda mais… levávamos o indivíduo vendado e sem roupa lá pra praia do Cassino, na madrugada. Daí amarrávamos as mãos e os pés dele com uma corda e entrávamos com ele no mar. Afogávamos o cara… contávamos a passagem de seis ou sete ondas e depois retirávamos ele da água. Repetíamos isso várias vezes, até quase ele não aguentar mais. Se mesmo depois disso ele não falasse nada, nós eletrocutávamos ele com os fios ligados no dínamo [do motor] do Opala. Isso sempre funcionava [...]


Tortura no mar


Na terra de Golbery, o terror vinha do mar. Em 28 de março de 1964, três dias antes do golpe, o NHi Canopus (H22), um navio hidrográfico da Marinha de 1.800 toneladas e 78 metros de comprimento, concluiu seu trabalho científico de 30 meses para o levantamento da costa sul brasileira desde Torres até Chuí. Missão cumprida, tomou o caminho de Rio Grande, onde ancorou ao largo do porto. Era comandado pelo capitão-de-fragata Maximiano da Fonseca, que na década de 1980 seria colega de ministério de Golbery, como almirante e ministro da Marinha do governo Figueiredo. Levava a bordo 116 tripulantes, um helicóptero e 14 cientistas. Mas, naqueles dias agitados dos idos de março, o barco abrigou uma carga inesperada: presos políticos.


Transformado em navio-prisão, o Canopus de Maximiano virou o cativeiro do prefeito cassado Farydo Salomão, ali submetido a torturas por ser amigo de Brizola e Jango. A violência é denunciada no livro Centenário do Colégio Lemos Júnior, escrito pelo jornalista Willy Cesar, riograndino como Golbery e que hoje defende o preito ao general. Outro depoimento, ainda mais forte, é do ex-capitão da Brigada Militar Athaídes Rodrigues, vereador e aliado do prefeito. No dia 7 de abril de 1964, 50 homens cercaram sua casa e o levaram preso, ainda de pijama, num jipe que rodou pela cidade até chegar à Capitania dos Portos. Dali, o vereador trocou o jipe por uma lancha e foi transportado à prisão flutuante do Canopus, onde se juntou a vários ferroviários detidos, incluindo o presidente do sindicato, Miguel Gomes.


Incorporado à Marinha em 1958, seis anos antes do golpe, o Canopus sobreviveu ao regime, aposentando-se doze anos após a queda da ditadura, em 1997. Nesse período, passou 3.342 dias no mar e navegou mais de um milhão de quilômetros, o suficiente para 26 voltas ao mundo. A longa, impecável ficha funcional do Canopus ficou manchada, contudo, pelo desvio de rota ética que o imobilizou no porto de Rio Grande, abandonando por uns tempos a ciência das águas para lançar âncora na violência das mágoas políticas.


O navio-prisão na terra de Golbery era um resumo preciso do país-presídio a que Golbery e sua conspiração reduziram a terra dos brasileiros. O cativeiro temporário do Canopus em Rio Grande não era uma exclusividade do sul, mas uma fatalidade que se reproduzia em outras águas, em outras terras. No maior porto do país, Santos, no litoral paulista, estava fundeado o caso mais notório de navio-prisão do país, o Raul Soares. Era um velho transatlântico alemão construído em 1900, comprado pelo Lloyd Brasileiro em 1925 e transformado em navio de carga e passageiro para a rota Santos-Manaus.


Faca para o bife


Quase duas vezes maior que o Canopus, com 125 metros de comprimento, o Raul Soares tinha 110 tripulantes e acomodação para 580 passageiros. Os 80 da primeira classe tinham cabine reservada, salão de jantar e orquestra a bordo com pista de dança. Os outros 500 se acomodavam em redes e cobertas nos quatro porões, e comiam ali mesmo, disputando espaço com a carga – homens na proa, mulheres na popa. No espaço de dez anos, o Raul Soares navegou ao sabor das marés da história: serviu de prisão para os comunistas da fracassada rebelião de 1935 e trouxe para casa em 1945 os pracinhas da FEB que, aliados aos comunistas da União Soviética, derrotaram o Eixo nazifascista.


Em 24 de abril de 1964, o navio lúgubre de casco negro e uma enorme chaminé fumegante foi rebocado pela nova ordem militar até um banco de areia na ilha do Barnabé, em Santos. Cinco dias depois recebeu ali sua primeira leva de passageiros compulsórios: 40 sargentos do Exército que se opuseram ao golpe. Outros mais – militares e civis, sindicalistas e suspeitos em geral – chegariam depois, num total de quase 500 presos políticos, todos sem processo legal, sem direito a cabine reservada, nem orquestra, nem pista de dança. Ousaram desafiar a partitura desafinada da ditadura e foram jogados como carga nos seus porões infectos.


O Raul Soares tinha três calabouços, batizados pelos presos com nomes de boates famosas da época. O “El Morocco”, um salão metálico sem janelas, ventilação ou luz ao lado da caldeira, tinha uma atmosfera irrespirável de mais de 50 graus. O “Night and Day”, colado à geladeira, era uma sala menor onde os presos ficavam com água gelada na altura do joelho. O “Casablanca”, talvez o pior deles, era o depósito de fezes, onde a elas se misturavam os presos que precisavam ter a resistência quebrada, pela humilhação ou pelo mau cheiro. Este era o fedor institucional e jurídico emanado pela desordem militar manipulada no caldeirão malcheiroso do vovô Golbery.


Os detalhes escabrosos dessa história foram publicados em 1979 pelo repórter Mauri Alexandrino no jornal Preto no Branco, da Cooperativa dos Jornalistas de Santos. A desordem gerada pela prepotência da nova ordem foi percebida no dia em que 16 presos receberam uma boa notícia: haviam recebido habeas-corpus do juiz da 2ª Vara Criminal de Santos, Antônio Granda. À noite, aliviados, embarcaram na lancha e deixaram para trás aquele inferno. Foram direto para a sala do capitão dos Portos de São Paulo, Júlio de Sá Bierrenbach, encarregado dos inquéritos policiais na área sindical e política. O capitão chamou a imprensa, autorizou fotos, dispensou os jornalistas e, a sós com os presos, avisou:


“Quero comunicar que vocês estão soltos. Agora que estão em liberdade, estou dando nova voz de prisão. Vocês saíram do processo da Aeronáutica, mas ainda não enfrentaram o da Marinha. Estou abrindo novo inquérito.”


Os soldados reconduziram os presos para a lancha que os devolveu ao inferno. Muitos deles choravam, afogados num sentimento que mesclava tristeza e ódio. Jornalistas só tinham acesso ao Raul Soares como prisioneiros ou pelo filtro rigoroso do servilismo. Certo dia, dois jornalistas da Gazeta de Santos, escolhidos a dedo pelos militares, foram convidados a visitar a prisão flutuante. Elogiaram muito os comandantes pelas “ótimas condições carcerárias” e, na edição do dia seguinte do jornal, lembraram-se de uma única queixa dos prisioneiros: “Não existiam facas para cortar os bifes”, anotaram.


Caneta e metralhadora


Um jornalista subiu a bordo a contragosto: Nelson Gatto, repórter policial dos Diários Associados, penou ali 43 dias encarcerado. Sobreviveu para contar seu martírio em 1965 num livro – Navio Presídio – que ninguém leu. Foi apreendido pelo DOPS antes de alcançar as livrarias. A Justiça mandou liberar, a Aeronáutica mandou apreender de novo. No Superior Tribunal Militar (STM), Gatto ganhou por 10 a 0, com voto do ministro Olympio Mourão Filho, o general de Juiz de Fora que botou os tanques na rua em 31 de março.


O movimento militar desfechado em nome da santa hierarquia se convertera, naqueles dias agitados, num constrangedor foco de subversão: os oficiais-generais da suprema corte militar do país mandaram liberar o livro, um reles oficial da Aeronáutica fez exatamente o contrário. O coronel-aviador Francisco Renato de Melo invadiu a gráfica, recolheu toda a edição e a jogou no mar. Escapou um único exemplar. O coronel da Aeronáutica justificou assim a truculência: “Os juízes têm canetas, nós temos metralhadoras”. Em 1967, cumprindo a maldição do capitão Bierrenbach, Gatto foi preso novamente para responder sobre o livro que nunca circulou.


Os defensores de Golbery, sem a ingenuidade do neto, lembram sempre o seu papel na distensão e na abertura do regime executadas pelos dois generais – Ernesto Geisel e João Figueiredo – que lhe deram o longo reinado de sete anos como poderoso ministro da Casa Civil, entre 1974 e 1981. É verdade. No entanto, indulgentes, esquecem-se de dizer que Golbery estava também na outra ponta do processo político, fechando o ciclo democrático em 1964 e inaugurando uma ditadura que sobreviveria 21 anos.


A diástole que descontraía o sistema, segundo seu cardíaco pensamento político, foi antecedida pela contração da sístole. O general que comandou a sístole de 1964 não conseguiu pilotar a diástole de 1984, que acelerou com a hipertensão popular das multidões nas praças e avenidas das Diretas-Já e terminou com o surto de Tancredo Neves em pleno Colégio Eleitoral. Os amigos não lembram, e o neto não diz, mas é sempre bom repetir que o candidato de vovô Golbery no colégio era Paulo Maluf, confirmando sua teimosa vocação para estar sempre do lado oposto aos interesses populares.


Príncipes do bruxo


O teórico da “doutrina da segurança nacional” instaurou, por ardis, aparatos e artimanhas, uma rotina de insegurança pessoal que sacramentou o medo e a delação num país intimidado pela repressão e assustado pela síndrome da intriga, do grampo, da denúncia. Essa inclinação para o mal, como já deve ter suspeitado o jovem Golbery Neto, reforça a tese de que o avô tinha forte inclinação por dois príncipes – o de Maquiavel e o de Lampedusa.


O ardiloso general tinha a consciência da fortuna, a idéia romana de sorte, definida pelo gênio florentino como algo inevitável, que pode levar alguém ao poder ou tirá-lo de lá. Como se sabe, uma obsessão muito golberyana. E, como o autor de O Leopardo, o generaltentava “tudo mudar para que tudo ficasse como está”. A desastrada campanha de Maluf no Colégio Eleitoral mostra que Golbery tentava “mudar para preservar”, dando uma sobrevida civil ao regime militar que definhou como a aristocracia siciliana do século 19 desenhada por Lampedusa.


Maluf, na cabeça de Golbery, era o meio que justificava – ou adiava – o fim.


Golbery Neto provavelmente era nascido em 1977, quando o vovô Golbery cometeu sua derradeira bruxaria bem sucedida, o “Pacote de Abril”. Como de hábito, contra o povo. Sob o comando do sacerdote Geisel, o feiticeiro e meia dúzia de áulicos cozinharam uma sulfúrica emenda constitucional e seis decretos leis que, em resumo, dissolviam a vontade popular, um estorvo permanente aos planos de Golbery. Fecharam o Congresso para ruminar em paz seus feitiços, cancelaram a eleição direta de 1978 para governadores, inventaram um monstrengo sem voto (o senador-biônico), ampliaram para seis anos o mandato do sucessor de Geisel e aumentaram o peso de Estados menos populosos e politizados no Congresso Nacional.


Era Golbery, de novo, num surto de Lampedusa.


Mito na granja


Dois anos depois vovô Golbery recrudesceu, cada vez mais assustado com o crescimento do MDB, que pela força do voto emparedava a ARENA, a sigla da ditadura. Era preciso mudar o quadro partidário, implodindo a frente oposicionista, para que tudo ficasse como estava.


A ARENA virou PDS (o povo não esquece) e o MDB virou um caco, rachado entre cinco legendas: o PMDB de Ulysses, o PTB de Ivete Vargas, o PP de Tancredo Neves, o PDT de Leonel Brizola e o PT de Lula. A fortuna do mago florentino sorria para o bruxo riograndino. O marido de Ivete, Paulo Martins, trabalhava com Golbery no Gabinete Civil.


Ivete, que tinha o apoio de Golbery para arrebatar o PTB das mãos de Brizola, foi chamada em 1979 à Granja do Ipê, residência do general em Brasília, para ouvir este satânico raciocínio do feiticeiro:


– Precisamos trazer o Brizola de volta para o Brasil, porque ele está se tornando um mito muito forte fora do país. É melhor que ele volte e dispute eleição, porque assim perderá prestígio político.


O ex-deputado federal Sinval Boaventura, um radical arenista mineiro, foi lá na granja conferir a ideia com Golbery. O general ampliou sua tese, apostando num nome:


–A estratégia é estimular a imprensa para projetar Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, um grande líder metalúrgico de São Paulo, uma liderança inteligente e expressiva. Ele precisa ser preparado para ser o anti-Brizola.


Todo esse prontuário de Golbery passou em branco pela grande imprensa, que não abriu espaço para a atrevida homenagem ensaiada em Rio Grande. Um historiador da terra, Chico Cougo, 24 anos, portanto bem mais jovem que o alienado prefeito de sua cidade, nasceu dois anos após a queda da ditadura. Nem por isso deixa de abastecer seu blogpara emitir seu juízo ferino sobre o conterrâneo general, alinhando textos inteligentes, devastadores numa série imperdível sobre “Golbery e a cidade surreal”.


Outra exceção à regra do silêncio é o jornalista e escritor Juremir Machado da Silva, que acaba de lançar o livro Vozes da Legalidade, tem programa na rádio Guaíba e coluna no Correio do Povo, onde provocou:


“Rio Grande quer homenagear o ‘Rasputin’ nacional. Por que não uma estátua para os ministros militares que tentaram dar o golpe em 1961?… O mais incrível é que [o prefeito] Fábio Branco pertence ao PMDB, que se orgulha de ter combatido a ditadura… Resta uma hipótese radical: Branco quer expor Golbery às pombas da praça Tamandaré…”


A maior corrupção


Duas vozes expressivas da imprensa gaúcha discordam. Lasier Martins, âncora da RBS TV, o principal grupo de comunicação do sul, acha que a homenagem é parte da democracia. Indaga: “É tão difícil assim entender isso?”. É, é muito difícil entender, considerando que nenhuma democracia deve exaltar quem conspirou contra a democracia.


O experiente jornalista Érico Valduga, dono do Periscópio, um respeitado blog políticodo sul, acha que a homenagem “é uma questão local legítima” em que “a sociedade de Rio Grande preferiu ver no conterrâneo o governante que beneficiou a cidade com obras públicas importantes”.


Há dois graves problemas nesse raciocínio. A sociedade riograndina, pelo que se vê na pesquisa do jornal local, vê mais as malfeitorias nacionais do que as benfeitorias municipais, condenando como ilegítima a homenagem por maioria de quase 60%. A proposta ainda foi aprovada por menos da metade dos vereadores da Câmara, apenas seis em 13 representantes.


Valduga arrisca uma tese mais ousada para condenar os que se opõem ao louvor a Golbery: “É uma irresponsabilidade diversionista, que contribuirá para desfocar as lutas contra a corrupção”. O jornalista esquece que não há maior exemplo de corrupção do que um golpe que fecha o Parlamento, castra a vontade popular pelo veto ao voto, cassa mandatos políticos, censura, prende, tortura e mata, impondo ao país uma treva de 21 anos, consagrando a impunidade e estimulando a corrupção. Foi o louvado Golbery quem pensou esta irresponsabilidade que nos privou da democracia por duas décadas.


Nada mais diversionista.


O que espanta, de fato, não é a voz condescendente de alguns jornalistas, mas a afonia das principais lideranças do PMDB gaúcho, herdeiro do mais aguerrido e mais atingido MDB do país, que lutou e sangrou contra a ditadura gestada pelo general Golbery. O autor da proposta indecente é vereador do PMDB de Rio Grande, Renato Albuquerque, que viu seu PLV (projeto de lei de vereador) nº 93/2009 aprovado pela minoria da casa na sessão de 21 de dezembro de 2009. Cinco dos 13 vereadores estavam ausentes, só seis (menos da metade) aprovaram, contra dois votos. O prefeito Fábio Branco, também do PMDB, apôs sua assinatura na lei nº 6.835 exatos dez dias depois, em 31 de dezembro, quando a cidade e o país, desatentos, só estão preocupados com o réveillon damadrugada. Cobrado pela homenagem ao general, o prefeito que veio ao mundo em 1972 evocou o calendário para se eximir de um juízo sobre a ditadura de 1964: “Eu não era nascido…”


Tributo à treva


Não se conhece nenhum juízo, qualquer manifestação pública ou privada das principais lideranças, dos nomes históricos do PMDB gaúcho – todos nascidos e crescidos bem antes das malfeitorias antidemocráticas de Golbery. O Congresso Nacional, três vezes fechado e pesadamente mutilado pelo golpe engendrado pelo general desde os idos de 1961, recebeu a decisão de Rio Grande com um atordoante silêncio. À esquerda e à direita, nenhum dos 513 deputados, nenhum dos 81 senadores emitiu uma palavra, um só discurso, um mísero aparte, a favor ou contra.


Do PMDB nacional não se podia esperar nada de mais. Afinal, o MDB velho de guerra que um dia foi comandado por gente como Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela, Tancredo Neves, Alencar Furtado, Itamar Franco, Mário Covas, José Richa e Franco Montoro hoje é um PMDB rebaixado a gente como José Sarney (o último presidente do PDS, que o povo não esquece), Michel Temer, Renan Calheiros, Romero Jucá, Jáder Barbalho, Henrique Eduardo Alves, Newton Cardoso, por aí.


O alheamento do Parlamento a uma questão moralmente tão grave mostra o grau de desmemória a que se relegou a política brasileira, talvez o derradeiro legado do general Golbery para um país que não preza sua história e não consegue nem identificar os malfeitores da democracia. O desastrado, debochado ensaio de louvor a Golbery do Couto e Silva no sul coincide com a criação de uma Comissão da Verdade em Brasília que, em tese, irá dissecar a obra mais monstruosa do general: a ditadura de 21 anos. Um país que se recusa a discutir um tributo infeliz ao mentor da mais longa escuridão da República pode estar, na prática, erigindo um mausoléu da decência, da justiça, da consciência política.


Golbery Neto, antes de se ofender com um simples artigo baseado na história, devia ler e estudar um pouco mais para entender a real dimensão de seu avô, um contumaz cérebro do arbítrio que deve ser conhecido, debatido e lembrado pelos brasileiros – jamais exaltado.


Afinal, se a omissão paralisa até a sociedade politicamente organizada, essa sanção moral ficará por conta dos pombos da praça Tamandaré.


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[Luiz Cláudio Cunha é jornalista, Brasília, DF]