terça-feira, 25 de outubro de 2011

Museu do Índio teme desalojo e exige direitos frente ao Estado

Museu do Índio teme desalojo e exige direitos frente ao Estado

Os povos acupantes do Museu do Índio, no Rio de Janeiro, alertam para a
ameaça de serem desalojados e que seja demolido o prédio do Museu do
Índio, tombado em 1997, devido à especulação imobiliária e às obras da
Copa. Reivindicam o direito de gerir com autonomia a memória e a cultura
indígenas, neste prédio onde residiu Marechal Rondon, fundador do SPI
(primeira versão da FUNAI).

Excelentíssima Senhora Presidenta da República,

Nós, os indígenas do Brasil, sempre estivemos à margem da sociedade
brasileira, apesar de um dia termos sido donos desta terra, desde as
colonizações vimos lutando e reivindicando por nossos direitos a terra,
assim como, pela educação e saúde, pelos direitos de ir e vir e o de nos
manifestarmos por meio de nossa rica cultura, para que pudéssemos viver
com dignidade, como seres humanos e acima de tudo, como cidadãos legítimos
deste país.

Sempre que chegamos às grandes cidades, como Manaus, Brasília, Rio de
Janeiro, São Paulo, dentre outras, enfrentamos grandes dificuldades para
nossa sobrevivência, pois a discriminação é visível e nos impede de
competirmos como os outros cidadãos no mercado de trabalho. Não há espaço
para todos os 35.000 indígenas, que atualmente vivem aqui no Rio de
Janeiro.

No dia 20 de outubro de 2006, indígenas de diversas etnias como: Pataxó,
Guajajara, Apurinã, Tukano, Guarani, Xukuri-Kariri, Xavante, Tikuna, Tupi
Guarani, Fulni-o ,Potiguar decidimos zelar pelo espaço do original Museu
do Índio, localizado à Rua Mata Machado, nº 126, cujo acesso atual é feito
pela Av. Radial Oeste, em frente ao Estádio Mário Filho (Maracanã), no Rio
de Janeiro, o qual se encontra em total estado de deterioração e abandono
desde 1977. Ressaltamos que até a data da nossa decisão, o casarão era
moradia de mendigos e esconderijo de marginais de toda espécie.

Desde então, este local transformou-se; além de nossa moradia em um centro
cultural (www.centroculturalindigena.jimdo.com) onde desenvolvemos
trabalhos educacionais e sociais, inclusive com projetos aprovados por
diversos órgãos, divulgando à sociedade brasileira, a nossa verdadeira
cultura indígena, como a nossa arte, hábitos, culinária, crenças, cantos,
danças, grafismos, e toda a oralidade ainda em uso em nossas florestas,
sem intermediários. Todo este trabalho visa alcançar os seguintes
objetivos:

- Mobilizar a sociedade brasileira ao respeito e apoio aos nativos deste
país;

-Fortalecer a educação nacional, erradicando estereótipos e elimi nando
preconceitos;

-Fazer valer a Lei 11645/08 promulgada no Governo do Presidente Lula que
torna obrigatório o ensino da história e cultura indígena nos currículos
escolares;

-Divulgar o conhecimento da medicina ancestral, costumes, esportes,
etnografia, rituais, dentre outros;

-Integrar harmoniosamente indígenas e sociedade sem perdas de culturas e
valores;

- Apoiar a formação universitária de profissionais para melhor assistir às
suas aldeias.

Temos muita convicção de que este casarão é o espaço mais adequado de
referência e assistência aos povos originários, no Rio de Janeiro, pois
além de estarmos desenvolvendo nele um maravilhoso trabalho, sabemos de
sua importância como marco da museografia e sua enorme influência nacional
e internacional, bem como do seu tombamento em 1997. Também neste local,
residiu o Marechal Cândido Rondon, fundador do Serviço de Proteção
Indígena (SPI), serviço este que deu origem a FUNAI. Por outro lado,
estando localizado junto ao Estádio Mário Filho (Maracanã), ponto de
destaque da malha urbana do bairro Maracanã, referência arquitetônica para
a cidade, este casarão após reforma poderá tornar-se em importante pólo
revitalizador para esta região.

Portanto a nossa expectativa e desejo são pelo reconhecimento da
grandiosidade do trabalho que vem sendo realizado e da valorização deste
patrimônio histórico sob a forma de reforma do casarão que se encontra em
ruínas. Com isso, obteremos a estrutura adequada ao prosseguimento dos
nossos projetos culturais e educacionais e poderemos continuar apoiando os
indígenas urbanos e os em trânsito de suas aldeias que estudam e
sobrevivem na cidade do Rio de Janeiro, que não contam aqui com o apoio da
FUNAI.

Atualmente, nos encontramos muito a preensivos com as obras de adequação do
Estádio Mário Filho (Maracanã) para atender aos jogos da Copa do Mundo em
2014, e pela especulação imobiliária do entorno que vem sendo
constantemente ventilada na imprensa, sentindo-nos pressionados e
preocupados em sermos expulsos do referido casarão a qualquer momento,
pois sabemos que existe uma grande expectativa dos organizadores e
patrocinadores do evento da Copa em demolí-lo, e transformá-lo em
estacionamento ou shopping.

Perguntamos:

Como pode ser demolido um imóvel do Patrimônio Histórico, tombado em 1997?

Como ficaremos, nós os indígenas ocupantes deste espaço?

Sem moradia e sem poder dar assistência aos nossos irmãos que transitam
das aldeias pra cá?

Por todos estes aspectos, vimos portanto, através desta, pedir à
Excelentíssima Sra. Presidenta da República Sra. Dilma Rousseff, Ministros
de Estado , Parlamentares de Estado, Parlamentares de estados e municípios
da Cidade do Rio de Janeiro, que nos ajudem a fazer valer o direito de
permanecer e dar continuidade ao nosso trabalho no original Museu do
Índio, otimizando e revitalizando este centro de referência nacional, em
espaço educacional e cultural dos povos originários do Brasil,
transformando-o num autêntico ponto de referência cultural da cidade do
Rio de Janeiro, possibilitando-nos preservar a cultura e originalidade
deste espaço, a fim de afirmarmos a identidade de nosso país, sem
discriminação, violência, e com igualdade social e respeito aos antigos
donos do país. Vida longa aos povos indígenas do Brasil!!!

Rio de Janeiro, 19 de setembro de 2011
Atenciosamente, Carlos Tucano
Aldeia Maracanã (Centro Cultural Indígena)

Etnias: Pataxó, Guajajara, Apurinã, Tukano, Guarani, Xukuri-Kariri,
Xavante, Tikuna, Tupi Guaran i ,Fulni-o ,Potiguar

Nenhum comentário:

Postar um comentário