Museu do Índio teme desalojo e exige direitos frente ao Estado Os povos acupantes do Museu do Índio, no Rio de Janeiro, alertam para a ameaça de serem desalojados e que seja demolido o prédio do Museu do Índio, tombado em 1997, devido à especulação imobiliária e às obras da Copa. Reivindicam o direito de gerir com autonomia a memória e a cultura indígenas, neste prédio onde residiu Marechal Rondon, fundador do SPI (primeira versão da FUNAI). Excelentíssima Senhora Presidenta da República, Nós, os indígenas do Brasil, sempre estivemos à margem da sociedade brasileira, apesar de um dia termos sido donos desta terra, desde as colonizações vimos lutando e reivindicando por nossos direitos a terra, assim como, pela educação e saúde, pelos direitos de ir e vir e o de nos manifestarmos por meio de nossa rica cultura, para que pudéssemos viver com dignidade, como seres humanos e acima de tudo, como cidadãos legítimos deste país. Sempre que chegamos às grandes cidades, como Manaus, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, dentre outras, enfrentamos grandes dificuldades para nossa sobrevivência, pois a discriminação é visível e nos impede de competirmos como os outros cidadãos no mercado de trabalho. Não há espaço para todos os 35.000 indígenas, que atualmente vivem aqui no Rio de Janeiro. No dia 20 de outubro de 2006, indígenas de diversas etnias como: Pataxó, Guajajara, Apurinã, Tukano, Guarani, Xukuri-Kariri, Xavante, Tikuna, Tupi Guarani, Fulni-o ,Potiguar decidimos zelar pelo espaço do original Museu do Índio, localizado à Rua Mata Machado, nº 126, cujo acesso atual é feito pela Av. Radial Oeste, em frente ao Estádio Mário Filho (Maracanã), no Rio de Janeiro, o qual se encontra em total estado de deterioração e abandono desde 1977. Ressaltamos que até a data da nossa decisão, o casarão era moradia de mendigos e esconderijo de marginais de toda espécie. Desde então, este local transformou-se; além de nossa moradia em um centro cultural (www.centroculturalindigena.jimdo.com) onde desenvolvemos trabalhos educacionais e sociais, inclusive com projetos aprovados por diversos órgãos, divulgando à sociedade brasileira, a nossa verdadeira cultura indígena, como a nossa arte, hábitos, culinária, crenças, cantos, danças, grafismos, e toda a oralidade ainda em uso em nossas florestas, sem intermediários. Todo este trabalho visa alcançar os seguintes objetivos: - Mobilizar a sociedade brasileira ao respeito e apoio aos nativos deste país; -Fortalecer a educação nacional, erradicando estereótipos e elimi nando preconceitos; -Fazer valer a Lei 11645/08 promulgada no Governo do Presidente Lula que torna obrigatório o ensino da história e cultura indígena nos currículos escolares; -Divulgar o conhecimento da medicina ancestral, costumes, esportes, etnografia, rituais, dentre outros; -Integrar harmoniosamente indígenas e sociedade sem perdas de culturas e valores; - Apoiar a formação universitária de profissionais para melhor assistir às suas aldeias. Temos muita convicção de que este casarão é o espaço mais adequado de referência e assistência aos povos originários, no Rio de Janeiro, pois além de estarmos desenvolvendo nele um maravilhoso trabalho, sabemos de sua importância como marco da museografia e sua enorme influência nacional e internacional, bem como do seu tombamento em 1997. Também neste local, residiu o Marechal Cândido Rondon, fundador do Serviço de Proteção Indígena (SPI), serviço este que deu origem a FUNAI. Por outro lado, estando localizado junto ao Estádio Mário Filho (Maracanã), ponto de destaque da malha urbana do bairro Maracanã, referência arquitetônica para a cidade, este casarão após reforma poderá tornar-se em importante pólo revitalizador para esta região. Portanto a nossa expectativa e desejo são pelo reconhecimento da grandiosidade do trabalho que vem sendo realizado e da valorização deste patrimônio histórico sob a forma de reforma do casarão que se encontra em ruínas. Com isso, obteremos a estrutura adequada ao prosseguimento dos nossos projetos culturais e educacionais e poderemos continuar apoiando os indígenas urbanos e os em trânsito de suas aldeias que estudam e sobrevivem na cidade do Rio de Janeiro, que não contam aqui com o apoio da FUNAI. Atualmente, nos encontramos muito a preensivos com as obras de adequação do Estádio Mário Filho (Maracanã) para atender aos jogos da Copa do Mundo em 2014, e pela especulação imobiliária do entorno que vem sendo constantemente ventilada na imprensa, sentindo-nos pressionados e preocupados em sermos expulsos do referido casarão a qualquer momento, pois sabemos que existe uma grande expectativa dos organizadores e patrocinadores do evento da Copa em demolí-lo, e transformá-lo em estacionamento ou shopping. Perguntamos: Como pode ser demolido um imóvel do Patrimônio Histórico, tombado em 1997? Como ficaremos, nós os indígenas ocupantes deste espaço? Sem moradia e sem poder dar assistência aos nossos irmãos que transitam das aldeias pra cá? Por todos estes aspectos, vimos portanto, através desta, pedir à Excelentíssima Sra. Presidenta da República Sra. Dilma Rousseff, Ministros de Estado , Parlamentares de Estado, Parlamentares de estados e municípios da Cidade do Rio de Janeiro, que nos ajudem a fazer valer o direito de permanecer e dar continuidade ao nosso trabalho no original Museu do Índio, otimizando e revitalizando este centro de referência nacional, em espaço educacional e cultural dos povos originários do Brasil, transformando-o num autêntico ponto de referência cultural da cidade do Rio de Janeiro, possibilitando-nos preservar a cultura e originalidade deste espaço, a fim de afirmarmos a identidade de nosso país, sem discriminação, violência, e com igualdade social e respeito aos antigos donos do país. Vida longa aos povos indígenas do Brasil!!! Rio de Janeiro, 19 de setembro de 2011 Atenciosamente, Carlos Tucano Aldeia Maracanã (Centro Cultural Indígena) Etnias: Pataxó, Guajajara, Apurinã, Tukano, Guarani, Xukuri-Kariri, Xavante, Tikuna, Tupi Guaran i ,Fulni-o ,Potiguar |
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Museu do Índio teme desalojo e exige direitos frente ao Estado
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