Proeminência internacional do Brasil não depende mais de Lula, dizem analistas
Maurício SavaresNa segunda-feira (17), Brasil e Turquia fecharam um acordo com o Irã, que se comprometeu a –dentro de um mês– enviar 1,2 tonelada de urânio levemente enriquecido aos turcos. Esse volume seria enriquecido em 20% na França ou na Rússia e, dentro de um ano, transformado em 120 quilos de urânio a serem reenviados aos iranianos para uso civil. As potências ocidentais ameaçam Teerã com uma quarta rodada de sanções por temor de que o programa nuclear tenha fins bélicos.
Os Estados Unidos e o Reino Unido emitiram sinais de descrédito em relação ao acerto, criticado por não conter uma afirmação clara de que a teocracia islâmica não enriquecerá urânio acima de 20% em seu território. A França indicou que vai esperar as observações da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) sobre o assunto. Foi a similar a postura de Rússia e China, principais interlocutoras de Teerã antes da aproximação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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Para ele, uma eventual vitória do oposicionista José Serra (PSDB) traria “mudança de tom, mas não de orientação”. “Podem diminuir a amizade com alguns países e aumentar com outros, podem fechar uma representação aqui e outra ali. Mas o Brasil já tem relações mais profundas com a África e o Oriente Médio e essas não serão ignoradas”, afirmou. Já a vitória da governista Dilma Rousseff (PT) geraria dúvidas, segundo ele, por conta do histórico de discórdia entre presidente e seu sucessor.
“Isso vai depender exclusivamente da relação que Dilma e Lula mantiverem depois. Presidentes que fazem seu sucessor não têm relação tranquila com sucessor. Se ela seguir a linha do atual presidente, não terá o mesmo carisma, a mesma capacidade de persuasão pessoal, mas pode ser útil como Lula é.”
Questão de experiência
Para Michael Shifter, presidente do instituto Diálogo Interamericano, com sede em Washington, a questão iraniana pode ser mais ligada à figura de Lula, mas a importância do Brasil em foros internacionais, não. “O papel global do país é permanente e não importa quem vença as eleições. Mas o Irã vem associado à idéia de que o presidente atual tem um toque mágico. Isso não se ligaria a outro governo. A aventura do Irã reflete muito da habilidade de Lula de ter apelo internacional”, disse.
Shifter diz que “existe uma idéia crescente de que a partir de agora o Brasil será importante globalmente”. “O Irã serve para mostrar que o Brasil tem ambição grande de tentar resolver um problema que outros tentaram e não conseguiram. Mas serve também como a primeira de uma série de tentativas. Certamente o Brasil aparecerá mais vezes e terá de desempenhar um papel importante”, avaliou.
Professor de Relações Internacionais da London School of Economics, Michael Cox diz que “a acusação de ingenuidade brasileira, feita pela secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton é algo que vai se tornar mais frequente". Mas não tira a importância do Brasil nas discussões globais. “A dúvida é se o Brasil terá um papel que ajudará os EUA, se será neutro ou se será antagônico”, afirmou.
O especialista britânico considera Lula o principal impulsor da diplomacia brasileira com todo o mundo, sem fazer distinção de regimes democráticos ou autoritários. Mas com o tempo o Brasil terá de ser mais claro sobre os valores que defenderá. “Para ser grande, o país vai ter de dizer mais vezes se acha governos como o da Venezuela, por exemplo, democráticos de verdade. Vai ter de se posicionar no Oriente Médio, em conflitos africanos e por aí vai”, disse.
“Não será fácil, mas os primeiros passos dessa jornada mostraram que o Brasil não vai recuar sobre esse desejo de ser importante. A tendência é de que consiga essa proeminência, mas que também atraia novos adversários. Não há ganho sem sofrimento na arena internacional”, finaliza Cox.
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