sábado, 11 de dezembro de 2010

NOEL ROSA


O Rio onde Noel vive

Taberna que artista frequentava ainda existe na Glória, assim como o casario da Rua das Marrecas, outros lugares homenageiam o compositor

KAMILLE VIOLA

A rainha de bateria Sabrina Sato é uma das atrações dos ensaios semanais da agremiação | Foto: Ag. News
Rio - Em 11 de dezembro de 1910 nascia Noel Rosa, um dos maiores nomes da música brasileira. Exatos cem anos depois, não é só no imaginário popular ou no coração dos fãs que ele ainda vive: ainda resistem na cidade lugares que fizeram parte da história do compositor.
Noel viveu e cantou Vila Isabel a ponto de sua história fundir-se com a do bairro. Logo na entrada da Avenida Vinte e Oito de Setembro, a principal do lugar, há uma estátua do compositor, inaugurada em 22 de março em 1996. Ela traz Noel sentado diante de uma mesa de bar, cigarro à mão, copo à frente, servido por um garçom. As calçadas da mesma rua têm a partitura de 'Feitiço da Vila', construída em 1965. A Rua Noel Rosa foi assim batizada em 1950 e há um túnel com o nome.
Ainda estão no bairro a chaminé e a fachada da fábrica de tecidos Confiança, eternizada por Noel na música 'Três Apitos'. Aberta em 1885, ela fi cou em atividade até 1964. Hoje, funciona no local um supermercado. Ali perto, está a vila operária, onde viviam os empregados das fábricas do bairro.
Até não muito tempo atrás, resistia em Vila Isabel, apesar das mudanças na fachada, a casa projetada por Manuel Garcia de Medeiros Rosa, o pai de Noel, onde a família viveu quando o chalé (erguido pelo avó de Noel, Eduardo Correa de Azevedo) estava em más condições. Ficava no número 195 da Rua Teodoro da Silva (hoje orrespondente ao 483). Atualmente, o terreno é ocupado por uma ofi cina de refrigeração e a casa teria sido derrubada há 16 anos, dando lugar a um galpão.
O quarteirão mais animado da Lapa no tempo de Noel começou a vir abaixo na década de 1960. No entanto, não muito longe, na Rua das Marrecas, resta um pouco do Rio do tempo do compositor: a rua mantém alguns de seus antigos sobrados. "Era ali que Vadico, parceiro dos mais importantes que o Noel teve, tinha seu quarto, com piano — ele tocava no cabaré onde Noel ia namorar, o Apollo. A casa do Vadico era muito usada para encontros amorosos", conta Carlos Didier, biógrafo do Poeta da Vila.
Outro ponto de encontro era a Taberna da Glória, na Rua do Russel. Embora tenha se mudado, para poucos metros depois (em 1972, com as obras do metrô), internamente mantém a decoração original — foi lá, por exemplo, que Noel Rosa levou Araci de Almeida quando se conheceram.
A parceria com Nássara
Entre os 56 parceiros musicais de Noel Rosa, estava outro ilustre artista, que também completaria 100 anos em 2010: o cartunista e compositor Nássara. Ao contrário do amigo, no entanto, ele pouco foi lembrado: apenas pelo livro 'Nássara Passado a Limpo' (ed. José Olympio), de Carlos Didier (também biógrafo de Noel), a ser lançado ainda em dezembro.
Antônio Gabriel Nássara nasceu exatamente um mês antes de Noel, em São Cristóvão, mas logo se mudou para a Vila Isabel. Foi lá que conheceu Noel, onde os dois frequentavam lugares como o Martinez, o botequim do Carvalho, o Ponto de 100 Réis e o Café Ponto Chic.
Nássara morava na Rua Teodoro da Silva, no mesmo trecho do bangalô – casa construída pelo pai de Noel –, onde o compositor viveu durante seu tempo de aluno do Colégio São Bento.
Desde 1927, Nássara já fazia caricaturas para jornais e revistas. Mas depois revelou também o talento de compositor — é dele a clássica 'Alá-la-ô', hino dos carnavais até hoje. Ele e Noel fi zeram juntos duas marchas: 'Retiro da Saudade' (1934) e 'Que Baixo' (1936).
A primeira tem uma história curiosa: Noel começa a cantar a música no rádio, com outra letra. Nássara brinca com o amigo "que foi passado para trás". Uma semana depois, Noel o procura para assinar contrato com a gravadora. E chama Carmem Miranda e Francisco Alves, maiores cantores da época, para cantar os versos que compôs com Nássara no único disco que gravaram juntos.
Jorginho do Império vai homenagear o poeta | Foto: Deisi Rezende / Agência O Dia
Com a palavra, Jaguar
Mais do que justa qualquer homenagem ao centenário de Noel Rosa. Já o Nássara, outro genial compositor, que nasceu um mês antes dele, quase não foi lembrado. Na foto acima, batida por mim há uns 20 anos, em Vila Isabel, os dois cariocas emblemáticos evocam as rodas de bamba no Café Nice, frequentadas por craques da música, como Orestes Barbosa e Haroldo Lobo, e do futebol: Leônidas – o Diamante Negro – e Domingos da Guia. Noel e Nássara foram parceiros no samba 'Retiro da Saudade' (1934), gravado "apenas" por Francisco Alves em dueto com Carmem Miranda. No coro: Os Diabos do Céu. O Café Nice fi cava onde hoje é a sede da Caixa Econômica, no Centro. Atenção, galera americanizada: pronuncia-se nice e não naice!

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